Conheci Miro sentado, meio corcunda com as mãos espremidas entre as coxas.
Pouco depois se espremeram entre as axilas, só com os polegares de fora.
Olhava para o chão.
Parecia tão pequeno em torno de si mesmo.
Até que a roda silenciou e ele falou, falou, falou.
Não lembro o quê. Só escutei um corpo espremido.
Descobri que tinha mãos desobedientes, pernas fracas e a cabeça contida.
Tremia muito.
Olhar pra cima, nem pensar!
***
Acompanhei Miro por alguns meses.
Saíamos a caminhar pelas ruas de Novo Hamburgo e conversávamos em bancos
de praça ou muretas de terrenos baldios. Também com alongamentos e bergamotas.
Miro foi viajante, andou sozinho por muitos lugares e agora me fala sobre a
prisão que sente em seu corpo. Da fraqueza, dos desmaios súbitos e da perda de
memória. Do perigo em andar só.
- Como posso viajar assim? Ele pergunta.
- Não sei, mas podemos tentar descobrir. Podemos começar ensaiando viagens com o
pensamento. Podes me contar mais sobre a Argentina? – Respondo.
Nas nossas pequenas viagens Miro nunca teve crises.
E ele me ensinou sobre pássaros.
***
Muitos são os corpos inquietos.
Agoniados, transbordantes.
Com ou sem palavras.
Expressivos, com força.
Contidos, babantes.
Vivendo?!
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